Homilia do Mons. José Maria – XX Domingo do Tempo Comum – Ano A
A Oração da Mulher Pagã
O Evangelho (Mt 15, 21-28) nos apresenta um comovente
diálogo da mulher Cananéia, considerada pagã pelos judeus, e o Cristo
que exalta a sua fé. A preocupação da mulher é a saúde da filha!
Jesus permanece em silêncio, aparentemente insensível aos
apelos da mulher… os apóstolos, impacientes, insistem para que resolva o
problema: ou cure de uma vez, ou então mande embora…
Cristo declara com sinceridade e firmeza sua posição: “Fui
enviado só para as ovelhas perdidas de Israel…” Mas a mulher insiste
nesse diálogo que parece impossível… Diz ela: “Senhor, vem em meu
socorro…” E Cristo lhe dirige uma afirmação dura: “Não é bom tomar o pão
da mesa dos filhos e lançá-los aos cães…” E ela não se ofende, pelo
contrário, com HUMILDADE prossegue:”Sim, Senhor, mas também os cães
comem as migalhas que caem da mesa de seus donos…”
No final, Jesus conclui: “Ó mulher, grande é tua FÉ! Seja
feito como queres!” E desde esse momento sua filha ficou curada.
Impressiona-nos a grande fé e humildade dessa mulher!
A mulher que o Evangelho de hoje nos apresenta é um modelo
perfeito de constância, em que devem meditar aqueles que logo se cansam
de pedir.
A constância na oração nasce de uma vida de fé, da
confiança em Jesus, que nos ouve mesmo quando parece que se cala. E, por
fim, da humildade, que é mais uma qualidade da boa oração.
Santo Agostinho conta-nos no livro Confissões como a sua
mãe, Santa Mônica, santamente preocupada com a conversão do seu filho,
não cessava de chorar e de pedir a Deus por ele; e também não deixava de
pedir a pessoas boas e sábias que falassem com ele para que abandonasse
os seus erros. Um dia, um bispo disse-lhe estas palavras que tanto a
consolaram: “Vai em paz, mulher!, pois é impossível que se perca o
filho de tantas lágrimas”. Mais tarde, o próprio Santo Agostinho
dirá:”Se eu não pereci no erro, foi devido às lágrimas cotidianas,
cheias de fé de minha mãe” (Confissões, 3, 12, 21).
A oração de petição ocupa um lugar muito importante na vida
dos homens.Temos que pedir também a outras pessoas que rezem pelas
intenções santamente ambiciosas que trazemos no nosso coração. O próprio
São Tomás explica que uma das causas pelos quais Jesus não respondeu
imediatamente à Cananéia, foi porque Ele queria que os discípulos
intercedessem por ela, para nos mostrar como é necessária a intercessão
dos santos para alcançarmos algumas coisas.
O milagre que a mulher pedia ao Senhor necessitou também de
uma oração persistente acompanhada de muita fé e de muita humildade.
Perseverar é a primeira condição de toda a petição: “É preciso orar
sempre, sem nunca desistir”(Lc 18, 1), ensinou o próprio
Jesus.”Perseverar na oração.-Persevera, ainda que o teu esforço pareça
estéril.-A oração é sempre fecunda”(São Josemaria Escrivá, Caminho nº
101).
Temos de pedir com fé. A própria fé, ensina Santo
Agostinho,”faz brotar a oração, e a oração, logo que brota, alcança a
firmeza da fé”; ambas estão intimamente unidas.
Podemos pedir para a alma a graça para lutar contra os
defeitos, maior retidão de intenção no que fazemos, fidelidade à nossa
vocação, luz para receber com mais fruto a Sagrada Comunhão, uma
caridade mais delicada, docilidade na direção espiritual,mais ardor
apostólico… O Senhor quer também que lhe peçamos por outras
necessidades: ajuda para superarmos um fracasso, saúde, emprego e tantas
outras coisas… Mas tudo na medida em que nos sirva para amar mais a
Deus. Não queremos nada que, talvez com o passar do tempo, nos afastaria
do que verdadeiramente nos deve importar: estar sempre junto de
Cristo.”Diz- Lhe: -Senhor, nada quero fora do que Tu quiseres. Não me
dês nem mesmo aquilo que te venho pedindo nestes dias, se me afasta um
milímetro da Tua vontade” (São Josemaria, Forja, nº 512).
Agrada a Jesus que rezemos pelas outras pessoas. Ensina São
João Crisóstomo: “A necessidade obriga-nos a rogar por nós mesmos, e a
caridade fraterna a pedir pelos outros; mas é mais aceitável a Deus a
oração recomendada pela caridade do que aquela que é motivada pela
necessidade”.
Ao iniciar a SEMANA da FAMÍLIA rezemos por nossas famílias.
Que elas se fortaleçam no amor, no diálogo, no perdão e na FÉ.
Abençoados os pais que assumem a missão de educar na fé. Rezemos para
que todas as nossas famílias possam ser a família que Deus quer…
Mons. José Maria Pereira